Arcebispo Dom Paulo Evaristo Arns morre ao aos 95 anos em São Paulo
- Marcos Tomaes
- 14 de dez. de 2016
- 3 min de leitura

Foto: G1
Uma tarde muito triste e de sentimento para católicos do mundo inteiro. Morreu hoje Quarta-Feira (13) o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito da arquidiocese de São Paulo. Ele estava internado no Hospital Santa Catarina em decorrência de uma broncopneumonia. Arns tinha 95 anos.
D. Paulo foi internado no dia 28 de Novembro para tratar de problemas pulmonares. Com o passar do dia o estado de saúde piorou e ele teve de ir para a UTI por causa de dificuldades na função renal. Segundo o Hospital, Arns faleceu por volta das 11h45 de hoje, a morte foi causada por falência múltipla dos órgãos.
Luta pelos direitos humanos
Sua trajetória ficou marcada pela defesa dos direitos humanos durante a ditadura militar e pela retomada da democracia, o que lhe rendeu o apelido de cardeal da resistência.
Quinto de 13 filhos de imigrantes alemães, Arns nasceu em 1921 em Forquilhinha, Santa Catarina. Ingressou na Ordem Franciscana em 1939, e iniciou seus trabalhos como líder religioso em Petrópolis, no Rio de Janeiro. Formou-se em teologia e filosofia em universidades brasileiras. Ordenado sacerdote em 1945, ele foi estudar na Sorbonne, em Paris, onde cursou letras, pedagogia e também defendeu seu doutorado.
Foi bispo e arcebispo de São Paulo entre os anos 60 e 70. Teve uma atuação marcante na Zona Norte da cidade, região em que desenvolveu inúmeros projetos para a população de baixa renda.
Ao longo de sua trajetória, trabalhou ainda como jornalista, professor e escritor, tendo publicado 57 livros. Torcedor fanático do Corinthians, ele sempre exaltou seu amor pelo clube paulista e escreveu o livro "Corintiano Graças a Deus".
Durante a Ditadura Militar, destacou-se por sua luta política, em defesa dos direitos humanos, contra as torturas e a favor do voto nas Diretas Já. Ganhou projeção na militância em janeiro de 1971, logo após tornar-se arcebispo de São Paulo, e denunciar a prisão e tortura de dois agentes de pastoral, o padre Giulio Vicini e a assistente social Yara Spadini. No mesmo ano, apoiou Dom Hélder Câmara e Dom Waldyr Calheiros, que estavam sendo pressionados pelo regime militar.
Nesse período, encontrou-se com o então presidente, Emílio Garrastazu Médici e questionou a truculência da ditadura: "Senhor presidente eu estou aqui pra dizer ao senhor que nós gostaríamos que houvesse julgamento em São Paulo, que as pessoas não fossem presas assim sem mais nem menos", diz. Conta que ouviu do general: "Nós não temos conversas, nós sabemos o que temos que fazer. O seu lugar é na igreja, na sacristia, e o nosso lugar é aqui para governar o estado".
Em 1972 criou a Comissão Justiça e Paz de São Paulo e, como presidente regional da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), liderou a publicação do “Testemunho de paz”, documento com fortes críticas ao regime militar que ganhou ampla repercussão à época.
Presidiu celebrações históricas na Catedral da Sé, no Centro de São Paulo, em memória de vítimas da Ditadura Militar. Dentre eles, do estudante universitário Alexandre Vannucchi Leme, assassinado em 1973, e o ato ecumênico em honra do jornalista Vladimir Herzog, assassinado no DOI-CODI, em São Paulo, em 1975. Atuou contra a invasão da PUC em 1977, em São Paulo, comandada pelo coronel Erasmo Dias, à época secretário de Segurança.
Prêmios
Por seus feitos, recebeu inúmeros prêmios e homenagens no Brasil e no exterior. Dentre eles, o Prêmio Nansen do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur), o Prêmio Niwano da Paz (Japão), e o Prêmio Internacional Letelier-Moffitt de Direitos Humanos (EUA), além de 38 títulos de cidadania.
Em 28 anos de arcebispado, criou 43 paróquias, construiu 1.200 centros comunitários, incentivou e apoiou o surgimento de mais de 2.000 comunidades eclesiais de base (CEBs) na capital paulista.
Sua biografia foi relatada em dez livros, sendo o mais recente lançado em outubro deste ano, no Tuca, teatro da PUC, na Zona Oeste de São Paulo, durante uma homenagem pelos 95 anos de Dom Paulo.
Entre os livros de maior repercussão está a obra "Brasil Nunca Mais", um trabalho de pesquisa que teve papel fundamental na identificação e denúncia dos torturadores do regime militar.
Comments