Para ter acesso a transporte coletivo, cadeirante se arrasta em ônibus
- G1.com/tvfronteira
- 30 de set. de 2015
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A universitária Edna Ribeiro, de 41 anos, que é cadeirante, registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil por injúria real, crime previsto no parágrafo 2º do artigo 140 do Código Penal, após se sentir constrangida ao pegar um ônibus de transporte coletivo urbano nesta terça-feira (29), no Bairro São João, em Presidente Prudente, e ter de se “arrastar” pelos corredores do veículo. De acordo com ela, o equipamento elevatório destinado a permitir o embarque e o desembarque de pessoas em cadeiras de rodas não funcionou e esta não foi a primeira vez que isso aconteceu.
Segundo Edna, em média, são necessárias seis conduções diárias para realizar suas atividades, mas nem sempre consegue chegar a tempo em seus compromissos devido ao “descaso” que sofre. “Desde o começo do ano, tem acontecido esse tipo de situação. Quando o aparelho não está quebrado, eles me deixam no ponto. Eu morro de medo de sair de casa e não conseguir concluir o meu trajeto”, conta. Para tentar evitar os transtornos diários, a estudante de pedagogia relata que chega a ligar nas empresas de transporte para saber se o carro que fará a linha de que necessita estará com a rampa de elevação em condições de operar. “Já cheguei a ficar no ponto mais de uma hora e meia. Em alguns casos, os passageiros que me ajudam. Entre quatro e cinco pessoas se juntam para levantar minha cadeira de rodas”, salienta.

'Isso me deixa muito envergonhada' Mesmo reclamando nas empresas, Edna ainda se queixa por não ter seu pedido atendido. “Eu liguei e disse que havia um carro com o equipamento quebrado, mas me alegaram que eles não tinham sido informados sobre isso. Em alguns casos, quando peço auxílio aos motoristas, nem sempre eles podem me ajudar, porque alegam receber ordens da empresa de que não podem levantar a cadeira dos deficientes para colocar no ônibus”, diz. Mas, além de se sentir constrangida, a universitária alega que o pior é ter o seu direito desrespeitado. “A acessibilidade é o direito de ir e vir para onde se precisa ou deseja, porém não é assim que as coisas acontecem. O deficiente quando sai de casa já é olhado diferente pelas pessoas e, ao me verem me arrastando, acabo me tornando o centro das atenções. Isso me deixa muito envergonhada”, desabafa. Na busca por seus direitos, ela fala que já procurou órgãos públicos aos quais apresentou a situação. “Eu fui ao Ministério Público Estadual e fiz uma denúncia sobre os problemas que enfrentava para utilizar o transporte público. Na época, em 2014, o serviço melhorou 95%, mas, depois de um tempo, quando pararam de ser pressionados, tudo voltou ao normal”, afirma.
'Ninguém toma uma atitude' Para que todos tenham uma rotina digna, as mudanças devem sair do “papel”, segundo Edna. “São tantas palavras bonitas, como acessibilidade e inclusão social, entretanto, ninguém toma uma atitude para tornar isso tudo válido. O que eu percebo é que, desse modo, os deficientes vão voltar a ser como eram há muito tempo: os excluídos da sociedade”, desabafa.
A prudentina tem medo de que essa “exclusão” que tem vivido possa prejudicar um dos seus maiores sonhos, que é ser mãe. “Eu estou tentando engravidar e, se continuar a me arrastar desse jeito, posso correr riscos de me machucar ou até pegar alguma doença. Sem contar que, quando eu tiver com meu bebê no colo, como farei para realizar minhas atividades? Terei de arrastá-lo dentro do ônibus? Ou então me manter presa dentro de casa?”, questionou.
‘Problema mecânico’ De acordo com o coordenador operacional do transporte coletivo de Presidente Prudente, José Ricardo Góes, a situação registrada por Edna Ribeiro se tratou de um “problema mecânico”, devido à falha de uma das peças da rampa elevatória no ônibus da linha Ana Jacinta-Bairro São João-Centro, da empresa Pruden Express.
“Todos os carros possuem essa plataforma. O veículo que ela cita é novo e no momento de seu acionamento houve o problema em uma peça, que ainda está na garantia. Ela poderia ter aguardado por mais 30 minutos para que outro ônibus a levasse”, informa. Ainda segundo ele, após a constatação da falha no equipamento, foi feita a troca do veículo ao chegar ao ponto final. “Todos os carros que estão prestando serviços em Presidente Prudente funcionam adequadamente”, disse. Sobre o caso da universitária, Góes ressaltou que não foi informado oficialmente. “Ainda não recebemos nenhuma notificação do ocorrido. O que ela deve fazer é buscar seus direitos, como, no caso, registrar um boletim de ocorrência e, posteriormente, procurar os órgãos competentes. Caso ela queira mais informações sobre o transporte, pode estar se dirigindo até as empresas, que será atendida”, finaliza.
Fonte:G1.com/Tvfronteira
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